7 de mar. de 2012

"Desejo proibido": uma casa, três histórias, três momentos históricos de luta e superação de casais lésbicos




Protagonizado por Vanessa Redgrave, Paul Giamatti, Choe Sevigny, Michele Willians, Sharon Stone e Regina King, discute por meio de três histórias de vida, as dificuldades enfrentadas por lésbicas em épocas diferentes, mostrando assim a luta dessas mulheres, que ainda hoje enfrentam a dor e o preconceito em uma sociedade predominante machista e heteronormativa.


No artigo “Cinema e Sexualidade”, a professora Guacira Lopes Louro faz uma análise desse filme:

Desejo Proibido (If These Walls Could Talk 2, 2000) lida com questões significativas para o movimento lésbico. O filme é constituído por três histórias curtas de mulheres que vivem numa mesma casa em diferentes épocas (1961, 1972 e 2000). As cenas de abertura já sinalizam a ótica do filme, na medida em que apresentam, numa espécie de colagem, imagens de mulheres em situações “tradicionais” (dona-de-casa, esposa atenciosa, miss, etc.) e imagens de marchas feministas e do movimento lésbico.


O primeiro segmento enfoca duas companheiras que vivem juntas por muitos anos. O afeto e o preconceito que experimentam são mostrados em cenas  expressivas, como, por exemplo, em uma sessão de cinema, na qual assistem a Calúnia, emocionam-se e, imediatamente, devem conter gestos de carinho face ao riso dos outros espectadores. A morte súbita de uma delas interrompe a vida partilhada. Edith (Vanessa Redgrave) se vê obrigada a sofrer silenciosamente a perda da companheira Abby (Marian Seldes). Nas cenas da hospitalização de Abby e da notícia de sua morte, o filme faz um contraponto entre o tratamento que enfermeiras e médico dão a uma mulher que perde seu marido e a essa que é “apenas” uma “amiga” da morta. O silêncio sobre a parceria amorosa prolonga-se para além da morte. Incompreendida pelos parentes de Abby, Edith vê ser arrancado de suas mãos (para ser herdado por um sobrinho distante e por sua ávida esposa) tudo o que as duas haviam construído juntas.

O segundo segmento enfoca os anos 70, época do ativismo feminista nos Estados Unidos. A mesma casa é partilhada por quatro jovens amigas lésbicas em conflito com o grupo feminista da faculdade do qual fazem parte. Algumas das fissuras internas do movimento de mulheres são apresentadas nessa história. Inicialmente, é mostrada a recusa das ativistas em incluir as lésbicas em suas discussões, com a afirmativa de que, “primeiro”, seria importante dar conta das lutas feministas para “depois” pensar sobre as reivindicações das mulheres lésbicas. As garotas se afastam, revoltadas. A seguir, a ação se volta para o interior do pequeno grupo homossexual e permite observar a rejeição que as amigas impõem a uma das companheiras da casa (Linda, interpretada por Michelle Williams) quando esta se apaixona por uma butch (Amy, interpretada por Chloë Sevigny). As garotas debocham do comportamento de Amy, fazem-na trocar seu terno e gravata por uma camisa feminina e despenteiam seu cabelo. Quando Amy decide ir embora, Linda pergunta: “Sabem por que vocês agiram assim? Porque não são capazes de aceitar alguém que não seja igual a vocês”. Ao final,
Linda assume publicamente seu relacionamento com Amy.

No último episódio, ambientado nos tempos atuais, a questão central é a da maternidade como desejo do casal de lésbicas (interpretado por Sharon Stone e Ellen DeGeneres). Nessa história, salientam-se as peripécias das duas mulheres para conseguir um doador de sêmen e, ao mesmo tempo, manter o filho como só delas. O episódio assume quase um tom de comédia, o que contrasta com o caráter dramático e tenso dos episódios anteriores. Risadas, música e manifestação pública de afeto sugerem que alguma coisa mudou e que, eventualmente, a afirmação dos direitos pode ser feita, agora, de forma menos penosa.


O filme foi lançado em VHS/DVD no Brasil e praticamente não entrou no circuito comercial, sendo exibido em festivais ou salas especiais. No entanto, pelo fato de trazer no elenco algumas atrizes famosas, é possível que sua plateia tenha se ampliado. São as vozes das mulheres lésbicas que se ouve nos três episódios, e o modo como são apresentadas suas histórias parece invocar a simpatia da plateia para com os seus dramas, conflitos e desejos.


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O filme "Desejo proibido",  será exibido nos 
dias 07/03 (quarta-feira, às 19h) e 08/03 (quinta-feira, às 12h30),
no Goiânia Cine Ouro (ingressos: R$1), pela Semira Mostra Mulheres no Cinema.


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